No Brasil, as primeiras usinas hidrelétricas foram construídas por empresários, que tinham o objetivo de movimentar seus negócios de produção fabril ou engenhos. No início dos anos 1900 vem a se estabelecer na Cidade de São Paulo e Rio de Janeiro empresas formadas no Canadá para explorar os serviços de energia elétrica, transporte e comunicação (The São Paulo Tramway, Light and Power e The Rio de Janeiro Tramway, Light and Power. A partir de 1912, as duas empresas passaram a ser controladas pela holding Brazilian Traction Light and Power Co. Ltd.). Depois chegaram os americanos com a American & Foreign Power.
A capital do País, a cidade do Rio de Janeiro, era servida pela Companhia Light que abastecia seus consumidores através de suas usinas construídas no complexo de Ribeirão das Lajes, cuja primeira unidade ficou pronta no ano de 1908 e depois teve o acréscimo de geração com a usina de Forçacava, mais tarde chamada de Nilo Peçanha.
Com sua localização situada na Serra das Araras, portanto, com certa distância do ponto de carga, sujeito à falhas do sistema de transmissão e a origem hidráulica, que pode ficar comprometida se o regime de chuvas não for favorável a manter bons níveis no reservatório de acumulação, o Distrito Federal e outras do Estado do Rio de Janeiro (17 Municípios) e mais duas cidades do Estado de Minas Gerais (Chiador e Mar de Espanha) que compunham a área de concessão da Rio Light, já eram consumidores acostumados com um sistema que a cada ano ficava mais crítico e deixava as casas às escuras.
A falta d´água e de luz fez um compositor paulista compor em 1953 o que foi o sucesso do carnaval seguinte a marcha “Vagalume”:
Rio de Janeiro,
cidade que me seduz,
de dia falta água,
de noite falta luz
(Ah! Quem nos dera que fosse só isso! Faltam telefones, transportes, alimentos, casas para morar; só não faltam duas coisas: buracos nas ruas e escândalos na administração pública. O CARETA-12/9/1953 pp 10)
Sendo estes serviços concedidos pela Administração Pública a terceiros, cabe a ela supervisionar sua execução e estipular o prazo de sua concessão entre outros detalhes. O grupo Light sentia-se confortável diante da legislação que regia seus serviços porque durante a Segunda Guerra um decreto a deixou muito mais livre para fazer o que quisesse. A Light já havia suspendido a construção da usina hidrelétrica Auxiliar de Lajes, em Ponte Coberta, porque economicamente trazia prejuízos e também forçada por decreto a construir uma usina termelétrica a carvão nos anos 50, pouco caso fez das determinações que naquela época eram regidas pelo Conselho Nacional de Águas e Energia Elétrica, que era o órgão executor e fiscalizador da aplicação do Código de Águas de 1934.
Por sua vez, o Grupo Light se queixava de excesso de regulamentação e de uma tarifa de energia que não lhe permitia investir e ter lucros. Com a inércia do setor privado o Estado teve que tomar para si o empreendimento de geração elétrica.
Como primeira grande intervenção federal temos a criação em 1945 da Companhia Hidro Elétrica do São Francisco e que passa a gerar somente em 1954 com as primeiras unidades de Paulo Afonso. Nesse mesmo período o governo de Minas Gerais cria a Companhia Energética de Minas Gerais S. A. (1952), empresa que cuida da geração, transmissão e distribuição de energia elétrica desde o seu nascimento.
Seu criador, Juscelino Kubitscheck, ao chegar à Presidência da República funda mais duas companhias de âmbito federal, a Central Elétrica de Furnas S. A. (1957) para construir uma usina para aproveitar o reservatório formado pelos Rio Grande e Sapucaia no sudoeste de Minas Gerais e a Companhia Hidrelétrica do Vale do Paraíba (1960) para atuar no Rio Paraíba do Sul.
Ambas companhias estatais tiveram entre seus acionistas governos federal (como maior acionista) e estaduais, e a participação minoritária das empresas do grupo Light, a São Paulo Light e a Rio Light, respectivamente, em Furnas e na CHEVAP. Estas empresas, conforme concebidas deveriam atender ao crescimento dos Estados que compunham parte do que era chamado à época Região Centro-Sul: São Paulo, Distrito Federal, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Espírito Santo, Norte do Paraná.
Com a Usina de Furnas, posta a funcionar a primeira unidade em 1963, tivemos naquela década a terceira maior usina hidrelétrica do mundo, somente superados por unidades nos Estados Unidos e União Soviética.
A CHEVAP viria a construir uma usina com três unidades de 70 MW, cada uma, e atenderia as necessidades de eletrificação da Estrada de Ferro Central do Brasil (idealização desde os tempos de Pedro II), a Companhia Siderúrgica Nacional de Volta Redonda, as instalações militares situadas no Vale do Paraíba (um representante do Ministério da Guerra), além do Distrito Federal (na data de sua criação já o Estado da Guanabara), São Paulo e Rio de Janeiro, que eram também seus acionistas e com 3% das ações sem direito a voto e assento na Diretoria, a Rio Light S. A.
Mas, vamos voltar à criação do Estado da Guanabara, à cidade do Rio de Janeiro e retroceder um pouco mais.
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