Os estudos da Comissão do Vale do Paraíba levaram a contratar os serviços do Laboratório Nacional de Engenharia Civil de Lisboa, cujo maior expoente era o professor Lajinha Serafim e que determinou um projeto arrojado de barragem para os padrões brasileiros: uma barragem delgada de abóbada de dupla curvatura.
CIENTISTA A CAMINHO DO
BRASIL-25 DE ABRIL DE 1957
(CORREIO DA MANHÃ)
LISBOA, 24 – Um cientista
português partiu ontem em missão de estudo para o Brasil. O engenheiro Joaquim
Laginha Serafim, chefe da seção de barragens do Laboratório Nacional de
Engenharia Civil (onde estão em estudo vários projetos para grandes construções
brasileiras e onde estagiam diversos técnicos do Brasil) vai em missão oficial
ao Brasil para visitar as obras da barragem de Salto Funil no curso do Rio
Paraíba, Estado do Rio de Janeiro. O técnico português analisará no local as
condições da implantação da obra e estabelecerá com as entidades brasileiras
dela encarregadas pormenores do programa de estudo.
Aquele investigador efetuará
ainda algumas visitas e conferências em diversas universidades brasileiras e
instituições do Rio de Janeiro, São Paulo, Belo Horizonte e Recife.
CLUBE DE ENGENHARIA-“AS
BARRAGENS DOS APROVEITAMENTOS HIDRÁULICOS PORTUGUESES”-26 DE ABRIL DE 1957
(CORREIO DA MANHÃ)
Realiza-se hoje, dia 26 de
abril, às 17:30, no 24º andar do Edifício Edison Passos, à Av. Rio Branco, 124,
uma conferência sobre “AS BARRAGENS DOS
APROVEITAMENTOS HIDRÁULICOS PORTUGUESES”, pelo engenheiro Joaquim Laginha
Serafim, engenheiro do Laboratório Nacional de Engenharia Civil, de Portugal.
A entrada é livre a todos os
que interessarem pelo assunto.
TÉCNICO PORTUGUÊS
ENTUSIASMADO COM O PROGRESSO DO BRASIL-8 DE MAIO DE 1957
(CORREIO DA MANHÃ)
S. PAULO, 7 – Em viagem de
intercâmbio cultural e com finalidades profissionais, encontra-se em S. Paulo
um dos mais ilustres representantes da nova geração de engenheiros portugueses,
o professor J. Laginha Serafim, chefe da Seção de Barragens do Laboratório de
Engenharia Civil de Lisboa. O visitante declarou à reportagem estar empolgado
com o progresso industrial e técnico do Brasil, tendo a visita a Volta Redonda
lhe causado uma impressão inesquecível.
CONFERÊNCIAS-SOBRE BARRAGENS
HIDRELÉTRICAS-12 DE MAIO DE 1957
(CORREIO DA MANHÃ)
No Real Gabinete Português
de Leitura falará amanhã, às 21:00, sobre barragens hidrelétricas o engenheiro
Joaquim Laginha Serafim.
DIÁRIO
ESCOLAR-CONFERÊNCIA-15 DE MAIO DE 1957
(DIÁRIO DE NOTÍCIAS)
O Curso de Extensão
Universitária de Barragens de Terra da Escola Nacional de Engenharia convida o
corpo docente e discente para a conferência do eng. Joaquim Laginha Serafim
hoje, quarta-feira, sobre “Ensaios de
Rochas e Barragens em Situ”. A conferência será realizada no anfiteatro de
Física, às 20:00.
SALTO DO FUNIL-16 DE MAIO DE
1957
(CORREIO DA MANHÃ)
Hoje à noite (quinta-feira), às 20:15 estará diante
das câmeras do canal 13 o professor Joaquim Laginha Serafim, ilustre engenheiro
do Laboratório de Engenharia Civil de Lisboa, técnico em barragens elétricas,
que irá falar sobre os planos de construção da barragem do Salto do Funil. O
professor Laginha Serafim encontra-se no Brasil a convite do Conselho Nacional
de Águas e Energia Elétrica, estudando o local onde será erguida aquela grande
obra, nas imediações de Resende.
Registre-se que o Salto do
Funil será construído segundo modelo concebido pelo Laboratório de Engenharia
Civil de Lisboa, já que este instituto desenvolveu com amplo sucesso um método
de construção 40% mais econômico do que os orçamentos comuns a outros países.
Em se tratando de uma autoridade consagrada, pertencente a um centro de renome
internacional, recomendamos sua entrevista aos nossos leitores que se
interessam pelo assunto.
CONFERÊNCIA NA ASSOCIAÇÃO
FLUMINENSE DE ENGENHEIROS E ARQUITETOS-17 DE MAIO DE 1957
(O FLUMINENSE)
Sob os auspícios da
Associação Fluminense de Engenheiros e Arquitetos será pronunciada, hoje, dia
17, às 10:00, na sede da Empresa Fluminense de Energia S. A., à Rua José
Clemente nº 43 – 2º andar, uma importante conferência sobre obras hidráulicas,
represas e barragens.
Fará a palestra o ilustre
engenheiro português Joaquim Laginha Serafim, chefe do Laboratório de
Hidráulica do Instituto de Engenharia Civil de Lisboa, que se encontra no
Brasil a convite da Comissão encarregada do projeto do aproveitamento das
quedas d´água de Funil e Furnas.
MALA DIPLOMÁTICA-DE LISBOA-20
DE OUTUBRO DE 1957
(CORREIO DA MANHÃ)
LISBOA, 19 – Nos escritórios
do sr. Fanor Cumplido Júnior, adido comercial do Brasil em Lisboa foi assinado
o contrato para a realização dos trabalhos preliminares de um novo tipo de
represa a ser construída no Salto do Funil, no Rio Paraíba, Brasil. O contrato
foi concedido ao Laboratório Nacional de Engenharia Civil de Portugal.
Segundo o documento, serão
realizados os trabalhos preliminares de investigação para a construção de uma
represa de arco duplo, conhecida tecnicamente como “abóbada de dupla curvatura”. O acordo compreende um gasto de
630.000 escudos.
O coronel Albuquerque Lima,
do Conselho Nacional de Águas e Energia Elétrica, do Brasil, assinou o contrato
por seu país. A obra foi confiada pelo Laboratório à Companhia Hidrotécnica
Portuguesa.
VASCONCELOS TORRES NÃO QUER
A CONTINUIDADE DA CONSTRUÇÃO DE FUNIL/BARRAGEM DO FUNIL-10 DE AGOSTO DE 1965
(O GLOBO) (DIÁRIO CARIOCA)
BRASÍLIA, 10 – O sr.
Vasconcelos Torres (PTB-RJ) voltou a condenar que seja levada avante a construção
de uma barragem, em abóbada delgada para reter volume de água de cerca de 1
bilhão m3, no Funil, pouco acima da cidade de Resende, segundo
salientou, em condições precárias, pela insuficiência de estudos e sem projeto
aprovado pelo Ministério das Minas e Energia. Afirmou já haver chamado a
atenção do Poder Público para a delicadeza da questão que implica na segurança
de 250 mil habitantes que vivem à jusante da barragem, a maior do mundo em
grandeza e em índice de periculosidade.
Reportou-se o senador a
outras providências que pediu, naquela oportunidade para a solução do problema,
acentuando que os seus temores foram, agora, confirmados com a entrevista
concedida à O GLOBO pelo ministro das Minas e Energia, na qual é denunciada a
falência técnica e administrativa da CHEVAP e é proposta a sua integração na
ELETROBRÁS. Manifestando-se contrariamente a essa integração, o sr. Vasconcelos
Torres disse que a solução do problema do Vale do Paraíba é de caráter global,
como a contida no projeto da Câmara nº 583∕59, de sua autoria. Frisou, mais
adiante, que o Rio Paraíba, com todas as suas fontes de energia principais e
subsidiárias e com sua descarga totalmente regularizada, por meio de seis
reservatórios de cabeceira, permitirá a instalação de potências em energia
elétrica, capaz de abastecer, por muitos anos, os Estados do Rio de Janeiro e
Guanabara e as regiões circunvizinhas. Também protestou o senador contra a
mudança de ciclagem no Estado do Rio e na Guanabara, vendo nessa medida apenas
o desejo hegemônico do grupo de empresas que pertence à CEMIG. Disse que a
mudança das linhas de 50 para 60 ciclos representa somente encarecimento da
construção das linhas de transmissão e o desequilíbrio financeiro, econômico e
técnico-industrial de uma vasta região do País. Terminou afirmando que se
tivesse sido constituída a comissão que pediu tempos atrás para estudar o
problema da CHEVAP, o Brasil teria economizado recursos financeiros e lucrado
em recursos técnicos.
ANAIS DO SENADO-AGOSTO DE
1965
“Sr.
presidente, mais de uma vez nos pronunciamos contra a atuação da CHEVAP no Vale
do Paraíba. Denunciamos, fundamentados em dados e argumentos técnicos
insofismáveis, a temeridade de levar avante a construção de uma grande barragem
em abóbada delgada, para reter volume de água de cerca de 1 bilhão m3,
no Funil, pouco acima da cidade de Resende, em condições precárias, pela
insuficiência de estudos e sem projeto aprovado pelo Ministério das Minas e
Energia, aprovação que é determinada por lei. Alertamos, recentemente, sobre
falhas graves de técnica e de administração, formulando uma interpelação ao
Poder Executivo, em extenso questionário, a ser respondido pelos fiadores desse
empreendimento de gravíssima responsabilidade. Essa interpelação ainda
permanece sem resposta. Preocupamo-nos com a defesa de interesses nacionais,
com a segurança de bens materiais de valor inestimável e da vida de uma
população de 241.190 habitantes, vivendo imediatamente à jusante dessa
gigantesca acumulação, a maior do mundo em grandeza e índice de periculosidade,
do tipo adotado pelos projetistas. Chamamos a atenção do Poder Público, do seu
órgão responsável pela segurança nacional, para a delicadeza da questão
relativa à segurança, dado o alheamento revelado pela empresa encarregada da
obra, relativamente às normas de defesa, consagradas nos regulamentos
universais, disciplinadores da matéria, os quais sujeitam as obras desse vulto
e gênero à aprovação dos estados-maiores das forças armadas. Assim procedem
nações como a Suíça, a Alemanha, e outras. Poderíamos citar exemplos bastante
sugestivos. O artigo do engenheiro Edward Grumer: "Dam Disasters",
inserido nos Proceedings of Institute of Civil Engineerlng, posto em nossas
mãos pelo dr. Silveira Gaspar Martins, mostra, em toda a sua dramaticidade, os
riscos que correm as populações à jusante das grandes barragens e a necessidade
de lhes garantir uma segurança cem por cento. Pedimos desta tribuna, fosse
organizada uma comissão internacional para apreciar o plano em execução, em
conjunto com os engenheiros brasileiros, sugerindo a presença nela do dr.
Silveira Gaspar Martins, comissão que poderia, ainda, estudar os problemas das
nossas barragens elevadas, agora, quando entramos no ciclo dos grandes
aproveitamentos hidrelétricos, em estruturas orográficas movimentadas, como são
as do nosso País. Apelamos para o bom senso de recorrer-se à experiência de
autoridades mundiais nessa matéria de elevada magnitude. Nesse sentido, o dr.
Silveira Gaspar Martins estabeleceu contato, por correspondência e diretamente,
em nosso nome, com vultos do porte do professor Alfredo Stucky, diretor da
Escola Politécnica da Universidade de Lausanne e autoridade mundial em
barragens de grande porte; com o dr. Charles Jaeger, autoridade em Mecânica de
Rochas e com o professor Henri Cambefort, especialista em fundações. Esses
técnicos, postos a par das condições especificas do projeto Funil, acharam
oportuna a realização da comissão e se prontificaram a integrá-la. O dr. Gaspar
propõe e estuda para o Funil uma barragem de abóbadas múltiplas em concreto
pretendido. Não exagerávamos, sr. presidente, quando assim agíamos. É o que
confirmam as manifestações do Exmo. Sr. Ministro das Minas e Energia e a
Direção da ELETROBRÁS, em entrevista ao "Jornal do Brasil" (29-7-65)
e em nota publicada em "O Globo" em 28·7-65, respectivamente, onde é
denunciada a falência técnica e administrativa da CHEVAP e se propõe a sua
integração à ELETROBRÁS, fundindo-a com a Companhia Brasileira de Energia
Elétrica, antiga empresa da AMFORP, providência essa que não julgamos
interessante, por motivos que esclarecemos. Diz o ilustre ministro Mauro Thibau
ao Jornal do Brasil: "Desde que se iniciaram as obras do Funil (CHEVAP),
no Rio Paraíba, que se encontram ainda nas fundações e com graves problemas
técnicos para resolver, outras empresas iniciaram, concluíram e estão operando
obras do porte de Três Marias e Furnas, que representam, respectivamente, três
vezes a produtividade do Funil”. E ainda: "O que interessa ao Estado é a existência da energia e, desse
ponto de vista, quem dependesse da CHEVAP estaria perdido, pois, em doze anos
de existência ela nem um quilowatt produziu, e nem há perspectiva de produzir
antes de 1967. A ELETROBRÁS afirma: “a CHEVAP a responsável pela construção da
Usina do Salto do Funil, localizada no Município de Resende, Estado do Rio de
Janeiro e da Termelétrica de Santa Cruz, localizada no Estado da Guanabara. A
primeira dessas obras, segundo dados que poderão ser comprovados, está,
atualmente, com um atraso de 20 meses em relação ao seu cronograma inicial,
elaborado em 1962; na segunda obra, da qual depende o Estado da Guanabara para
fazer face à futura crise de energia elétrica que sobrevirá em fins de 1967,
ainda se encontra nas fundações”. Cuidando exclusivamente do aspecto administrativo,
técnico e financeiro de tais obras, a Diretoria da ELETROBRÁS, após examinar
opiniões e pareceres dos seus órgãos técnicos, chegou à conclusão de que alguma
coisa de profundo deveria ser feito na estrutura da CHEVAP, a fim de que se
pudesse recuperar, pelo menos em parte, o tempo perdido, porque, dizemos nós, o
prejuízo econômico vultoso é irrecuperável. Para que se tenha noção do que
representa para o País o atraso da obra do Funil, basta que se tenha em conta
ser de Cr$ 50 milhões por dia de atraso o custo do capital a ser investido no
empreendimento, que já está atrasado de 20 meses, como foi dito acima, ou seja,
200 dias. Já tendo a ELETROBRÁS investido nas obras da CHEVAP a importância de
aproximadamente Cr$ 30 bilhões, nos quais a participação dos Estados acionistas
é de Cr$ 320 milhões cada um, sentiu-se ela na obrigação de, em defesa do
patrimônio da Nação, propor, devidamente autorizada pelo sr. ministro das Minas
e Energia, a solução que a seu ver é a única cabível”. Reconhece-se, assim, que
tínhamos razão, quando criticávamos; mais ainda: convenceu-se o Governo de que
a solução do problema do Vale do Paraíba é de caráter global; está na aceitação
do mesmo como unidade energética autônoma e especifica, solução a ser obtida
dentro de um plano de economia mista, como o que apresentamos no Projeto 583,
de 1959, à Câmara Federal e que atualizamos, em novo projeto apresentado a esta
Casa. Esse projeto, cremos, é a base de partida da solução total do
aproveitamento da energia elétrica do Vale do Paraíba. O Vale do Paraíba, com
todas as suas fontes de energia, as principais e as subsidiárias, com a sua
descarga totalmente regularizada, por melo dos seis reservatórios de cabeceira,
permitirá instalar potência capaz de abastecer por muitos anos os Estados do
Rio de Janeiro, Guanabara e regiões circunvizinhas. Somos, por isso, contrários
à solução proposta pela ELETROBRÁS de reduzir a CHEVAP, praticamente, a um de
seus órgãos. A ELETROBRÁS, por sua direção, carece de autoridade para criticar
a CHEVAP, pois sempre cruzou os braços, quando não compactuou com os erros
dessa empresa, que não cansamos de denunciar. Somos contra o plano em marcha de
mudança da ciclagem na área do Rio de Janeiro-Guanabara. Vemos nessa medida
apenas o desejo hegemônico do grupo de empresas a que pertence a CEMIG,
operando em regiões vizinhas ao Vale do Paraíba. A mudança de frequência de 50
para 60 ciclos representa somente o encarecimento da construção das linhas de
transmissão e o desequilíbrio financeiro-econômico e técnico-industrial de uma
vasta e expressiva região do País. Não é difícil provar, Sr. presidente, que o
Vale do Paraíba completamente equipado, com a sua ciclagem tradicional de 50
ciclos, é autossuficiente, basta-se a si mesmo em matéria de energia elétrica;
que não precisa esmolar quilowatts e que, com essa mudança onerosa, de sistema,
será vítima de sangrias em benefício de outras regiões geopolíticas, operando
em 60 ciclos. Aquilo que se apresenta como unificação útil (unificação de
frequência) para o complexo Estado do Rio de Janeiro-Estado da Guanabara é para
nós um mal, quer econômico, quer político. O benefício reside justamente, nesse
caso, na falta de unidade. Termino, Sr. presidente, com uma interpelação
dirigida ao Executivo: quanto teria lucrado a Nação, em benefícios técnicos e
em dinheiro, caso fosse organizada a comissão que propusemos? Esperamos seja
reorganizada a CHEVAP, dentro do quadro e das providências que sugerimos
apoiados por nossa assessoria. Era o que tínhamos a dizer”.
FATOS E RUMORES-10 DE AGOSTO
DE 1965
(TRIBUNA DA IMPRENSA)
O trabalho da
Procuradoria-Geral do Estado sobre o caso CHEVAP está pronto. O general Mandim
foi mandado a São Paulo (deve ter ido sexta-feira) levar uma cópia ao
governador Ademar de Barros. Este trabalho foi feito pelos procuradores Letácio
Jansen, José Emídio de Oliveira, general Mandim e seu assessor dr. Dirceu, sob
a supervisão do procurador-geral. Por trás desse caso existem escândalos e mais
escândalos. Há coisas estarrecedoras conseguidas pelo Grupo Light (o governador
Lacerda está furioso). Ao que tudo indica, o ministro do Planejamento está por
dentro da situação, mais uma vez.
THIBAU INSPECIONA HOJE A
BARRAGEM DO FUNIL, QUE SENADOR QUER PARAR-11 DE AGOSTO DE 1965
(O GLOBO)
O ministro Mauro Thibau, das
Minas e Energia, vai inspecionar a barragem com abóbada invertida do Brasil, no
Salto do Funil, no Rio Paraíba, em Itatiaia, cuja construção o senador
Vasconcelos Torres quer suspender, por considerar que ela poderá romper-se com
o peso de 1 bilhão m3 de água que se acumularão à montante,
ameaçando a vida de 250 mil pessoas que vivem à jusante. O senhor Mauro Thibau
viajará diretamente de São Paulo onde esteve ontem, para o Funil, devendo lá
encontrar o senhor Paranhos do Rio Branco, diretor-presidente interino da Companhia
Hidrelétrica do Vale do Paraíba (CHEVAP), responsável pela obra, que se destina
a fornecer mais 210.000 KW de energia para a região centro-sul do País,
especialmente a Guanabara.
(INSPEÇÃO
EM FUNIL – O Ministério das Minas e Energia distribuiu notícia sobre a inspeção
do ministro Mauro Thibau às obras da barragem que a CHEVAP está construindo no
Salto do Funil, em Itatiaia, sem fazer referência aos pronunciamentos do senador Vasconcelos
Torres, solicitando a paralisação das obras. Acompanharam o ministro, os srs.
Octávio Marcondes Ferraz, presidente da ELETROBRÁS; Peterson Soares Penido,
secretário de Obras do Estado de São Paulo; Heleno Nunes, secretário de Energia
do Estado do Rio. Antes de chegar ao Funil, o ministro e um diretor da
ELETROBRÁS, sr. Ronaldo Moreira da Rocha visitaram de helicóptero as obras do
alto curso do Rio Paraíba, na região de Paraibuna e Caraguatatuba, verificando
o que o governo paulista vem fazendo para a regularização dos afluentes do
Paraíba. No Funil, o sr. José Paranhos do Rio Branco, presidente da CHEVAP,
prestou esclarecimentos sobre a obra, visitando ainda a barragem de terra de
Nhangapi, destinada a evitar que as águas da represa invadam o leito da Via
Dutra e da linha da Central do Brasil. O GLOBO 14-08-1965)
PROJETO PORTUGUÊS
Segundo informações de fonte
da CHEVAP, quando ainda em fase de projeto, houve entendimentos com vários
laboratórios de engenharia civil, a fim de que fossem realizados ensaios
detalhados em modelos reduzidos, de modo a permitir que se verificasse a
exatidão do projeto e se fixasse a forma definitiva da barragem. Resultou daí a
adjudicação em 1957, ao Laboratório Nacional de Engenharia Civil, de Lisboa, o
mesmo que projetou a Praia do Flamengo e está projetando o alargamento de
Copacabana, dos estudos e ensaios, em modelos reduzidos dos órgãos hidráulicos
do aproveitamento do Funil, abrangendo a galeria de derivação provisória das
águas do Paraíba e do vertedouro.
Com os resultados dos
primeiros ensaios do LNEC, constatou-se a conveniência de projetar-se uma
barragem de concreto em abóbada, de sorte a permitir o prosseguimento dos
ensaios em modelos reduzidos. Segundo ainda a mesma fonte, em consequência da
estreita cooperação entre o LNEC e a Hidrotécnica Portuguesa, firma altamente
especializada no assunto em com sede em Lisboa, ainda em 1957 a comissão
encarregada do projeto do Funil (a CHEVAP foi criada posteriormente em 1961)
celebrou contrato com a mesma empresa para estudos e elaboração do anteprojeto
das obras de derivação provisória do rio, da barragem e da casa de máquinas. A Hidrotécnica
Portuguesa transferiu seus encargos para a firma Consultores de Barragens e
Aproveitamentos Hidráulicos (COBA), do Brasil e Portugal. Um dos diretores da
COBA, professor Laginha Serafim, veio ao Brasil inúmeras vezes, para realizar
seus serviços de consultoria visitando também Costa Rica e Estados Unidos, onde
mantem serviços idênticos. Os projetos de barragens em abóbada invertida foram
desenvolvidos pela engenharia portuguesa e pela primeira vez adotados no Brasil
na barragem do Funil.
(...)
Joaquim
Laginha Serafim nasceu em Loulé em 1921 e faleceu em Lisboa em 1994. Licenciado
em Engenharia Civil, no Instituto Superior Técnico, em 1944, foi convidado a
frequentar um curso nos Estados Unidos, destinado a cientistas e engenheiros
estrangeiros. Foi professor catedrático das Universidades de Coimbra e de
Maputo, e recebeu o grau de Doutor Honoris Causa pelas Universidades de Liége e
do Rio de Janeiro. Fez parte integrante de diversas sociedades científicas espalhadas
por todo o mundo sendo reconhecida a sua competência na execução de algumas das
maiores barragens existentes em várias partes do mundo. Trabalhou no Marrocos,
Espanha, Itália, Moçambique, Angola, Venezuela, Estados Unidos da América,
Turquia, Brasil, Irã, e em muitos outros países. Em Portugal construiu as
barragens de Castelo do Bode, Boução, Cabril, entre outras. Foi agraciado com
diversos prêmios, medalhas e comendas ao longo da vida, por entidades
portuguesas, espanholas, inglesas e americanas. Como delegado português visitou
mais de cinquenta países, onde participou em congressos e reuniões e realizou
centenas de conferências.
Chico
Fortes, resendense, engenheiro.
Era
um projeto federal chocado por uns 50 anos mais ou menos. O objetivo primeiro
era a eletrificação da estrada de ferro. Com a segunda guerra e a dificuldade
de dinheiro o projeto ficou hibernando, até que em 60 começou. Mas tudo muito
devagar, com muita interferência política. Com a revolução haviam duas
correntes militares antagônicas aqui dentro, uma mais janguista, outra mais de
direita, que não tinham nada a ver com a obra em si, mas aquilo foi uma coisa
horrorosa, prejudicava muito o andamento. Para se ter uma ideia, quando
estourou a revolução o quadro de engenheiros civis da CHEVAP (Companhia
Hidrelétrica do Vale do Paraíba) foi praticamente todo demitido pelo ato
institucional. Eu escapei por uma dificuldade de demissão, por eu estar
chefiando uma obra semi retirada, um pouco atrasada, com peculiaridades, e o
presidente da CHEVAP tinha me colocado lá justamente por isso. Mesmo assim eu
pedi demissão no fim de 64. Não suportei.
O
Eitel, pessoa admirável, era chefe de divisão da obra do Funil, eu era chefe de
divisão da obra de Nhangapi, daquela barragem de terra lá. E periodicamente nós
recebíamos a visita do professor Laginha Serafim, que era o autor do projeto
(uma concepção muito bonita, a única aqui no Brasil de barragem em abóbada). E
alguém foi dizer a ele que a areia que estava sendo usada para a construção era
uma areia contaminada - no caso, “contaminada” significa um teor de argila
muito grande, o que torna o concreto mais fraco se você não usa uma quantidade
muito grande de cimento. E o professor Laginha, muito vaidoso e um pouco
arrogante, reuniu um dia a turma e falou muito sério, com aquele sotaque de
português: “consta que a areia que vocês estão usando é uma areia contaminada,
e eu vou tirar a minha responsabilidade desse projeto”. O Eitel então virou-se
e disse assim: “mas quem disse que essa areia é contaminada? Isso é um
absurdo!” E catou na mão um punhado de
areia, jogou na boca e fez que mastigava e engolia, para provar a não
contaminação. Todo mundo ficou atônito e o assunto acabou no ato.
CÂMARA DOS DEPUTADOS-12 DE
AGOSTO DE 1965
O sr. José Maria Ribeiro: requerimento
de convocação do senhor Ministro das Minas e Energia, para prestar à Câmara dos
Deputados esclarecimentos sobre a Cia. Hidrelétrica do Vale do Paraíba, no
tocante à alteração dos Estatutos e construção da barragem do Funil construção
da Usina Termelétrica da Guanabara e elevação das tarifas de energia elétrica
no País.

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