terça-feira, 26 de janeiro de 2016

Albufeira Lusitana, Um Reservatório à Portuguesa

Os estudos da Comissão do Vale do Paraíba levaram a contratar os serviços do Laboratório Nacional de Engenharia Civil de Lisboa, cujo maior expoente era o professor Lajinha Serafim e que determinou um projeto arrojado de barragem para os padrões brasileiros: uma barragem delgada de abóbada de dupla curvatura. 

Mesmo após a adoção do projeto, início de obra e na continuidade dela, se discutia o assunto no Congresso Nacional, prejudicando o andamento dos serviços no canteiro de obras. Funil deveria entrar em operação no ano de 1965, mas só ficou pronta em 1969.



CIENTISTA A CAMINHO DO BRASIL-25 DE ABRIL DE 1957
(CORREIO DA MANHÃ)
LISBOA, 24 – Um cientista português partiu ontem em missão de estudo para o Brasil. O engenheiro Joaquim Laginha Serafim, chefe da seção de barragens do Laboratório Nacional de Engenharia Civil (onde estão em estudo vários projetos para grandes construções brasileiras e onde estagiam diversos técnicos do Brasil) vai em missão oficial ao Brasil para visitar as obras da barragem de Salto Funil no curso do Rio Paraíba, Estado do Rio de Janeiro. O técnico português analisará no local as condições da implantação da obra e estabelecerá com as entidades brasileiras dela encarregadas pormenores do programa de estudo.
Aquele investigador efetuará ainda algumas visitas e conferências em diversas universidades brasileiras e instituições do Rio de Janeiro, São Paulo, Belo Horizonte e Recife.
CLUBE DE ENGENHARIA-“AS BARRAGENS DOS APROVEITAMENTOS HIDRÁULICOS PORTUGUESES”-26 DE ABRIL DE 1957
(CORREIO DA MANHÃ)
Realiza-se hoje, dia 26 de abril, às 17:30, no 24º andar do Edifício Edison Passos, à Av. Rio Branco, 124, uma conferência sobre “AS BARRAGENS DOS APROVEITAMENTOS HIDRÁULICOS PORTUGUESES”, pelo engenheiro Joaquim Laginha Serafim, engenheiro do Laboratório Nacional de Engenharia Civil, de Portugal.
A entrada é livre a todos os que interessarem pelo assunto.
TÉCNICO PORTUGUÊS ENTUSIASMADO COM O PROGRESSO DO BRASIL-8 DE MAIO DE 1957
(CORREIO DA MANHÃ)
S. PAULO, 7 – Em viagem de intercâmbio cultural e com finalidades profissionais, encontra-se em S. Paulo um dos mais ilustres representantes da nova geração de engenheiros portugueses, o professor J. Laginha Serafim, chefe da Seção de Barragens do Laboratório de Engenharia Civil de Lisboa. O visitante declarou à reportagem estar empolgado com o progresso industrial e técnico do Brasil, tendo a visita a Volta Redonda lhe causado uma impressão inesquecível.
CONFERÊNCIAS-SOBRE BARRAGENS HIDRELÉTRICAS-12 DE MAIO DE 1957
(CORREIO DA MANHÃ)
No Real Gabinete Português de Leitura falará amanhã, às 21:00, sobre barragens hidrelétricas o engenheiro Joaquim Laginha Serafim.
DIÁRIO ESCOLAR-CONFERÊNCIA-15 DE MAIO DE 1957
(DIÁRIO DE NOTÍCIAS)
O Curso de Extensão Universitária de Barragens de Terra da Escola Nacional de Engenharia convida o corpo docente e discente para a conferência do eng. Joaquim Laginha Serafim hoje, quarta-feira, sobre “Ensaios de Rochas e Barragens em Situ”. A conferência será realizada no anfiteatro de Física, às 20:00.
SALTO DO FUNIL-16 DE MAIO DE 1957
(CORREIO DA MANHÃ)
Hoje à noite (quinta-feira), às 20:15 estará diante das câmeras do canal 13 o professor Joaquim Laginha Serafim, ilustre engenheiro do Laboratório de Engenharia Civil de Lisboa, técnico em barragens elétricas, que irá falar sobre os planos de construção da barragem do Salto do Funil. O professor Laginha Serafim encontra-se no Brasil a convite do Conselho Nacional de Águas e Energia Elétrica, estudando o local onde será erguida aquela grande obra, nas imediações de Resende.
Registre-se que o Salto do Funil será construído segundo modelo concebido pelo Laboratório de Engenharia Civil de Lisboa, já que este instituto desenvolveu com amplo sucesso um método de construção 40% mais econômico do que os orçamentos comuns a outros países. Em se tratando de uma autoridade consagrada, pertencente a um centro de renome internacional, recomendamos sua entrevista aos nossos leitores que se interessam pelo assunto.
CONFERÊNCIA NA ASSOCIAÇÃO FLUMINENSE DE ENGENHEIROS E ARQUITETOS-17 DE MAIO DE 1957
(O FLUMINENSE)
Sob os auspícios da Associação Fluminense de Engenheiros e Arquitetos será pronunciada, hoje, dia 17, às 10:00, na sede da Empresa Fluminense de Energia S. A., à Rua José Clemente nº 43 – 2º andar, uma importante conferência sobre obras hidráulicas, represas e barragens.
Fará a palestra o ilustre engenheiro português Joaquim Laginha Serafim, chefe do Laboratório de Hidráulica do Instituto de Engenharia Civil de Lisboa, que se encontra no Brasil a convite da Comissão encarregada do projeto do aproveitamento das quedas d´água de Funil e Furnas. 
MALA DIPLOMÁTICA-DE LISBOA-20 DE OUTUBRO DE 1957
(CORREIO DA MANHÃ)
LISBOA, 19 – Nos escritórios do sr. Fanor Cumplido Júnior, adido comercial do Brasil em Lisboa foi assinado o contrato para a realização dos trabalhos preliminares de um novo tipo de represa a ser construída no Salto do Funil, no Rio Paraíba, Brasil. O contrato foi concedido ao Laboratório Nacional de Engenharia Civil de Portugal.
Segundo o documento, serão realizados os trabalhos preliminares de investigação para a construção de uma represa de arco duplo, conhecida tecnicamente como “abóbada de dupla curvatura”. O acordo compreende um gasto de 630.000 escudos.
O coronel Albuquerque Lima, do Conselho Nacional de Águas e Energia Elétrica, do Brasil, assinou o contrato por seu país. A obra foi confiada pelo Laboratório à Companhia Hidrotécnica Portuguesa.
VASCONCELOS TORRES NÃO QUER A CONTINUIDADE DA CONSTRUÇÃO DE FUNIL/BARRAGEM DO FUNIL-10 DE AGOSTO DE 1965
(O GLOBO) (DIÁRIO CARIOCA)
BRASÍLIA, 10 – O sr. Vasconcelos Torres (PTB-RJ) voltou a condenar que seja levada avante a construção de uma barragem, em abóbada delgada para reter volume de água de cerca de 1 bilhão m3, no Funil, pouco acima da cidade de Resende, segundo salientou, em condições precárias, pela insuficiência de estudos e sem projeto aprovado pelo Ministério das Minas e Energia. Afirmou já haver chamado a atenção do Poder Público para a delicadeza da questão que implica na segurança de 250 mil habitantes que vivem à jusante da barragem, a maior do mundo em grandeza e em índice de periculosidade.
Reportou-se o senador a outras providências que pediu, naquela oportunidade para a solução do problema, acentuando que os seus temores foram, agora, confirmados com a entrevista concedida à O GLOBO pelo ministro das Minas e Energia, na qual é denunciada a falência técnica e administrativa da CHEVAP e é proposta a sua integração na ELETROBRÁS. Manifestando-se contrariamente a essa integração, o sr. Vasconcelos Torres disse que a solução do problema do Vale do Paraíba é de caráter global, como a contida no projeto da Câmara nº 583∕59, de sua autoria. Frisou, mais adiante, que o Rio Paraíba, com todas as suas fontes de energia principais e subsidiárias e com sua descarga totalmente regularizada, por meio de seis reservatórios de cabeceira, permitirá a instalação de potências em energia elétrica, capaz de abastecer, por muitos anos, os Estados do Rio de Janeiro e Guanabara e as regiões circunvizinhas. Também protestou o senador contra a mudança de ciclagem no Estado do Rio e na Guanabara, vendo nessa medida apenas o desejo hegemônico do grupo de empresas que pertence à CEMIG. Disse que a mudança das linhas de 50 para 60 ciclos representa somente encarecimento da construção das linhas de transmissão e o desequilíbrio financeiro, econômico e técnico-industrial de uma vasta região do País. Terminou afirmando que se tivesse sido constituída a comissão que pediu tempos atrás para estudar o problema da CHEVAP, o Brasil teria economizado recursos financeiros e lucrado em recursos técnicos.
ANAIS DO SENADO-AGOSTO DE 1965
“Sr. presidente, mais de uma vez nos pronunciamos contra a atuação da CHEVAP no Vale do Paraíba. Denunciamos, fundamentados em dados e argumentos técnicos insofismáveis, a temeridade de levar avante a construção de uma grande barragem em abóbada delgada, para reter volume de água de cerca de 1 bilhão m3, no Funil, pouco acima da cidade de Resende, em condições precárias, pela insuficiência de estudos e sem projeto aprovado pelo Ministério das Minas e Energia, aprovação que é determinada por lei. Alertamos, recentemente, sobre falhas graves de técnica e de administração, formulando uma interpelação ao Poder Executivo, em extenso questionário, a ser respondido pelos fiadores desse empreendimento de gravíssima responsabilidade. Essa interpelação ainda permanece sem resposta. Preocupamo-nos com a defesa de interesses nacionais, com a segurança de bens materiais de valor inestimável e da vida de uma população de 241.190 habitantes, vivendo imediatamente à jusante dessa gigantesca acumulação, a maior do mundo em grandeza e índice de periculosidade, do tipo adotado pelos projetistas. Chamamos a atenção do Poder Público, do seu órgão responsável pela segurança nacional, para a delicadeza da questão relativa à segurança, dado o alheamento revelado pela empresa encarregada da obra, relativamente às normas de defesa, consagradas nos regulamentos universais, disciplinadores da matéria, os quais sujeitam as obras desse vulto e gênero à aprovação dos estados-maiores das forças armadas. Assim procedem nações como a Suíça, a Alemanha, e outras. Poderíamos citar exemplos bastante sugestivos. O artigo do engenheiro Edward Grumer: "Dam Disasters", inserido nos Proceedings of Institute of Civil Engineerlng, posto em nossas mãos pelo dr. Silveira Gaspar Martins, mostra, em toda a sua dramaticidade, os riscos que correm as populações à jusante das grandes barragens e a necessidade de lhes garantir uma segurança cem por cento. Pedimos desta tribuna, fosse organizada uma comissão internacional para apreciar o plano em execução, em conjunto com os engenheiros brasileiros, sugerindo a presença nela do dr. Silveira Gaspar Martins, comissão que poderia, ainda, estudar os problemas das nossas barragens elevadas, agora, quando entramos no ciclo dos grandes aproveitamentos hidrelétricos, em estruturas orográficas movimentadas, como são as do nosso País. Apelamos para o bom senso de recorrer-se à experiência de autoridades mundiais nessa matéria de elevada magnitude. Nesse sentido, o dr. Silveira Gaspar Martins estabeleceu contato, por correspondência e diretamente, em nosso nome, com vultos do porte do professor Alfredo Stucky, diretor da Escola Politécnica da Universidade de Lausanne e autoridade mundial em barragens de grande porte; com o dr. Charles Jaeger, autoridade em Mecânica de Rochas e com o professor Henri Cambefort, especialista em fundações. Esses técnicos, postos a par das condições especificas do projeto Funil, acharam oportuna a realização da comissão e se prontificaram a integrá-la. O dr. Gaspar propõe e estuda para o Funil uma barragem de abóbadas múltiplas em concreto pretendido. Não exagerávamos, sr. presidente, quando assim agíamos. É o que confirmam as manifestações do Exmo. Sr. Ministro das Minas e Energia e a Direção da ELETROBRÁS, em entrevista ao "Jornal do Brasil" (29-7-65) e em nota publicada em "O Globo" em 28·7-65, respectivamente, onde é denunciada a falência técnica e administrativa da CHEVAP e se propõe a sua integração à ELETROBRÁS, fundindo-a com a Companhia Brasileira de Energia Elétrica, antiga empresa da AMFORP, providência essa que não julgamos interessante, por motivos que esclarecemos. Diz o ilustre ministro Mauro Thibau ao Jornal do Brasil: "Desde que se iniciaram as obras do Funil (CHEVAP), no Rio Paraíba, que se encontram ainda nas fundações e com graves problemas técnicos para resolver, outras empresas iniciaram, concluíram e estão operando obras do porte de Três Marias e Furnas, que representam, respectivamente, três vezes a produtividade do Funil”. E ainda: "O que interessa ao Estado é a existência da energia e, desse ponto de vista, quem dependesse da CHEVAP estaria perdido, pois, em doze anos de existência ela nem um quilowatt produziu, e nem há perspectiva de produzir antes de 1967. A ELETROBRÁS afirma: “a CHEVAP a responsável pela construção da Usina do Salto do Funil, localizada no Município de Resende, Estado do Rio de Janeiro e da Termelétrica de Santa Cruz, localizada no Estado da Guanabara. A primeira dessas obras, segundo dados que poderão ser comprovados, está, atualmente, com um atraso de 20 meses em relação ao seu cronograma inicial, elaborado em 1962; na segunda obra, da qual depende o Estado da Guanabara para fazer face à futura crise de energia elétrica que sobrevirá em fins de 1967, ainda se encontra nas fundações”. Cuidando exclusivamente do aspecto administrativo, técnico e financeiro de tais obras, a Diretoria da ELETROBRÁS, após examinar opiniões e pareceres dos seus órgãos técnicos, chegou à conclusão de que alguma coisa de profundo deveria ser feito na estrutura da CHEVAP, a fim de que se pudesse recuperar, pelo menos em parte, o tempo perdido, porque, dizemos nós, o prejuízo econômico vultoso é irrecuperável. Para que se tenha noção do que representa para o País o atraso da obra do Funil, basta que se tenha em conta ser de Cr$ 50 milhões por dia de atraso o custo do capital a ser investido no empreendimento, que já está atrasado de 20 meses, como foi dito acima, ou seja, 200 dias. Já tendo a ELETROBRÁS investido nas obras da CHEVAP a importância de aproximadamente Cr$ 30 bilhões, nos quais a participação dos Estados acionistas é de Cr$ 320 milhões cada um, sentiu-se ela na obrigação de, em defesa do patrimônio da Nação, propor, devidamente autorizada pelo sr. ministro das Minas e Energia, a solução que a seu ver é a única cabível”. Reconhece-se, assim, que tínhamos razão, quando criticávamos; mais ainda: convenceu-se o Governo de que a solução do problema do Vale do Paraíba é de caráter global; está na aceitação do mesmo como unidade energética autônoma e especifica, solução a ser obtida dentro de um plano de economia mista, como o que apresentamos no Projeto 583, de 1959, à Câmara Federal e que atualizamos, em novo projeto apresentado a esta Casa. Esse projeto, cremos, é a base de partida da solução total do aproveitamento da energia elétrica do Vale do Paraíba. O Vale do Paraíba, com todas as suas fontes de energia, as principais e as subsidiárias, com a sua descarga totalmente regularizada, por melo dos seis reservatórios de cabeceira, permitirá instalar potência capaz de abastecer por muitos anos os Estados do Rio de Janeiro, Guanabara e regiões circunvizinhas. Somos, por isso, contrários à solução proposta pela ELETROBRÁS de reduzir a CHEVAP, praticamente, a um de seus órgãos. A ELETROBRÁS, por sua direção, carece de autoridade para criticar a CHEVAP, pois sempre cruzou os braços, quando não compactuou com os erros dessa empresa, que não cansamos de denunciar. Somos contra o plano em marcha de mudança da ciclagem na área do Rio de Janeiro-Guanabara. Vemos nessa medida apenas o desejo hegemônico do grupo de empresas a que pertence a CEMIG, operando em regiões vizinhas ao Vale do Paraíba. A mudança de frequência de 50 para 60 ciclos representa somente o encarecimento da construção das linhas de transmissão e o desequilíbrio financeiro-econômico e técnico-industrial de uma vasta e expressiva região do País. Não é difícil provar, Sr. presidente, que o Vale do Paraíba completamente equipado, com a sua ciclagem tradicional de 50 ciclos, é autossuficiente, basta-se a si mesmo em matéria de energia elétrica; que não precisa esmolar quilowatts e que, com essa mudança onerosa, de sistema, será vítima de sangrias em benefício de outras regiões geopolíticas, operando em 60 ciclos. Aquilo que se apresenta como unificação útil (unificação de frequência) para o complexo Estado do Rio de Janeiro-Estado da Guanabara é para nós um mal, quer econômico, quer político. O benefício reside justamente, nesse caso, na falta de unidade. Termino, Sr. presidente, com uma interpelação dirigida ao Executivo: quanto teria lucrado a Nação, em benefícios técnicos e em dinheiro, caso fosse organizada a comissão que propusemos? Esperamos seja reorganizada a CHEVAP, dentro do quadro e das providências que sugerimos apoiados por nossa assessoria. Era o que tínhamos a dizer”.
FATOS E RUMORES-10 DE AGOSTO DE 1965
(TRIBUNA DA IMPRENSA)
O trabalho da Procuradoria-Geral do Estado sobre o caso CHEVAP está pronto. O general Mandim foi mandado a São Paulo (deve ter ido sexta-feira) levar uma cópia ao governador Ademar de Barros. Este trabalho foi feito pelos procuradores Letácio Jansen, José Emídio de Oliveira, general Mandim e seu assessor dr. Dirceu, sob a supervisão do procurador-geral. Por trás desse caso existem escândalos e mais escândalos. Há coisas estarrecedoras conseguidas pelo Grupo Light (o governador Lacerda está furioso). Ao que tudo indica, o ministro do Planejamento está por dentro da situação, mais uma vez.
THIBAU INSPECIONA HOJE A BARRAGEM DO FUNIL, QUE SENADOR QUER PARAR-11 DE AGOSTO DE 1965
(O GLOBO)
O ministro Mauro Thibau, das Minas e Energia, vai inspecionar a barragem com abóbada invertida do Brasil, no Salto do Funil, no Rio Paraíba, em Itatiaia, cuja construção o senador Vasconcelos Torres quer suspender, por considerar que ela poderá romper-se com o peso de 1 bilhão m3 de água que se acumularão à montante, ameaçando a vida de 250 mil pessoas que vivem à jusante. O senhor Mauro Thibau viajará diretamente de São Paulo onde esteve ontem, para o Funil, devendo lá encontrar o senhor Paranhos do Rio Branco, diretor-presidente interino da Companhia Hidrelétrica do Vale do Paraíba (CHEVAP), responsável pela obra, que se destina a fornecer mais 210.000 KW de energia para a região centro-sul do País, especialmente a Guanabara.
(INSPEÇÃO EM FUNIL – O Ministério das Minas e Energia distribuiu notícia sobre a inspeção do ministro Mauro Thibau às obras da barragem que a CHEVAP está construindo no Salto do Funil, em Itatiaia, sem fazer referência  aos pronunciamentos do senador Vasconcelos Torres, solicitando a paralisação das obras. Acompanharam o ministro, os srs. Octávio Marcondes Ferraz, presidente da ELETROBRÁS; Peterson Soares Penido, secretário de Obras do Estado de São Paulo; Heleno Nunes, secretário de Energia do Estado do Rio. Antes de chegar ao Funil, o ministro e um diretor da ELETROBRÁS, sr. Ronaldo Moreira da Rocha visitaram de helicóptero as obras do alto curso do Rio Paraíba, na região de Paraibuna e Caraguatatuba, verificando o que o governo paulista vem fazendo para a regularização dos afluentes do Paraíba. No Funil, o sr. José Paranhos do Rio Branco, presidente da CHEVAP, prestou esclarecimentos sobre a obra, visitando ainda a barragem de terra de Nhangapi, destinada a evitar que as águas da represa invadam o leito da Via Dutra e da linha da Central do Brasil. O GLOBO 14-08-1965)
PROJETO PORTUGUÊS
Segundo informações de fonte da CHEVAP, quando ainda em fase de projeto, houve entendimentos com vários laboratórios de engenharia civil, a fim de que fossem realizados ensaios detalhados em modelos reduzidos, de modo a permitir que se verificasse a exatidão do projeto e se fixasse a forma definitiva da barragem. Resultou daí a adjudicação em 1957, ao Laboratório Nacional de Engenharia Civil, de Lisboa, o mesmo que projetou a Praia do Flamengo e está projetando o alargamento de Copacabana, dos estudos e ensaios, em modelos reduzidos dos órgãos hidráulicos do aproveitamento do Funil, abrangendo a galeria de derivação provisória das águas do Paraíba e do vertedouro.
Com os resultados dos primeiros ensaios do LNEC, constatou-se a conveniência de projetar-se uma barragem de concreto em abóbada, de sorte a permitir o prosseguimento dos ensaios em modelos reduzidos. Segundo ainda a mesma fonte, em consequência da estreita cooperação entre o LNEC e a Hidrotécnica Portuguesa, firma altamente especializada no assunto em com sede em Lisboa, ainda em 1957 a comissão encarregada do projeto do Funil (a CHEVAP foi criada posteriormente em 1961) celebrou contrato com a mesma empresa para estudos e elaboração do anteprojeto das obras de derivação provisória do rio, da barragem e da casa de máquinas. A Hidrotécnica Portuguesa transferiu seus encargos para a firma Consultores de Barragens e Aproveitamentos Hidráulicos (COBA), do Brasil e Portugal. Um dos diretores da COBA, professor Laginha Serafim, veio ao Brasil inúmeras vezes, para realizar seus serviços de consultoria visitando também Costa Rica e Estados Unidos, onde mantem serviços idênticos. Os projetos de barragens em abóbada invertida foram desenvolvidos pela engenharia portuguesa e pela primeira vez adotados no Brasil na barragem do Funil.
(...)
Joaquim Laginha Serafim nasceu em Loulé em 1921 e faleceu em Lisboa em 1994. Licenciado em Engenharia Civil, no Instituto Superior Técnico, em 1944, foi convidado a frequentar um curso nos Estados Unidos, destinado a cientistas e engenheiros estrangeiros. Foi professor catedrático das Universidades de Coimbra e de Maputo, e recebeu o grau de Doutor Honoris Causa pelas Universidades de Liége e do Rio de Janeiro. Fez parte integrante de diversas sociedades científicas espalhadas por todo o mundo sendo reconhecida a sua competência na execução de algumas das maiores barragens existentes em várias partes do mundo. Trabalhou no Marrocos, Espanha, Itália, Moçambique, Angola, Venezuela, Estados Unidos da América, Turquia, Brasil, Irã, e em muitos outros países. Em Portugal construiu as barragens de Castelo do Bode, Boução, Cabril, entre outras. Foi agraciado com diversos prêmios, medalhas e comendas ao longo da vida, por entidades portuguesas, espanholas, inglesas e americanas. Como delegado português visitou mais de cinquenta países, onde participou em congressos e reuniões e realizou centenas de conferências.
Chico Fortes, resendense, engenheiro.
Era um projeto federal chocado por uns 50 anos mais ou menos. O objetivo primeiro era a eletrificação da estrada de ferro. Com a segunda guerra e a dificuldade de dinheiro o projeto ficou hibernando, até que em 60 começou. Mas tudo muito devagar, com muita interferência política. Com a revolução haviam duas correntes militares antagônicas aqui dentro, uma mais janguista, outra mais de direita, que não tinham nada a ver com a obra em si, mas aquilo foi uma coisa horrorosa, prejudicava muito o andamento. Para se ter uma ideia, quando estourou a revolução o quadro de engenheiros civis da CHEVAP (Companhia Hidrelétrica do Vale do Paraíba) foi praticamente todo demitido pelo ato institucional. Eu escapei por uma dificuldade de demissão, por eu estar chefiando uma obra semi retirada, um pouco atrasada, com peculiaridades, e o presidente da CHEVAP tinha me colocado lá justamente por isso. Mesmo assim eu pedi demissão no fim de 64. Não suportei.
O Eitel, pessoa admirável, era chefe de divisão da obra do Funil, eu era chefe de divisão da obra de Nhangapi, daquela barragem de terra lá. E periodicamente nós recebíamos a visita do professor Laginha Serafim, que era o autor do projeto (uma concepção muito bonita, a única aqui no Brasil de barragem em abóbada). E alguém foi dizer a ele que a areia que estava sendo usada para a construção era uma areia contaminada - no caso, “contaminada” significa um teor de argila muito grande, o que torna o concreto mais fraco se você não usa uma quantidade muito grande de cimento. E o professor Laginha, muito vaidoso e um pouco arrogante, reuniu um dia a turma e falou muito sério, com aquele sotaque de português: “consta que a areia que vocês estão usando é uma areia contaminada, e eu vou tirar a minha responsabilidade desse projeto”. O Eitel então virou-se e disse assim: “mas quem disse que essa areia é contaminada? Isso é um absurdo!”  E catou na mão um punhado de areia, jogou na boca e fez que mastigava e engolia, para provar a não contaminação. Todo mundo ficou atônito e o assunto acabou no ato.
CÂMARA DOS DEPUTADOS-12 DE AGOSTO DE 1965
O sr. José Maria Ribeiro: requerimento de convocação do senhor Ministro das Minas e Energia, para prestar à Câmara dos Deputados esclarecimentos sobre a Cia. Hidrelétrica do Vale do Paraíba, no tocante à alteração dos Estatutos e construção da barragem do Funil construção da Usina Termelétrica da Guanabara e elevação das tarifas de energia elétrica no País.


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